quarta-feira, 25 de maio de 2011

Meu manifesto contra a falta de vontade com as palavras

Esse texto acabou de ser postado como comentário numa postagem antiga onde eu e o Renato demos uns tiros num Anônimo que reclamava do livro dos Dragões estar caro, incacessível e não ser encontrado em lugar nenhum. Se quiser ver a história inteira, é só clicar aqui. A resposta a seguir fala um pouco sobre minha intolerância com certos comportamentos bem típicos atuais, especialmente no Brasil. Achei interessante postar aqui, porque lá, já que a postagem é antiga, as pessoas não devem ver.


"Oi, Pai Emerson! Sou uma admiradora da Umbanda e tenho muitos leitores e alunos dessa tradição. Quando tiveres o seu livro, por favor envie-o para que eu possa divulgar. Entenda que o fato de termos sido deselegantes em nossas respostas anteriores e termos nos desculpado não significa termos mudado de opinião. Só me desculpei pela forma agressiva de responder. Minha família era pobre, meu pai levou muitos anos e muito trabalho em dois empregos para nos dar uma vida melhor. Mesmo assim, nunca me faltou oportunidade de ler. Sim, os livros já eram caros naquela época, mas havia sebos, bibliotecas e clubes de leitura. Hoje, há feirinhas e sebos com livros a dois Reais. Eu deixava de lanchar - e pela distância do meu colégio, o lanche era meu almoço - para juntar dinheiro e comprar um livro. E como eu, milhares de pessoas sem condições nunca abandonaram a leitura de bons livros. Quem quer, dá um jeito. Quem não quer, arruma desculpa. Eu não concordo com essa política brasileira de ter pena do coitado e aceitar suas desculpas. Sim, o Governo não vale nada, sim, os impostos são um absurdo, sim, a vida às vezes é difícil. Mas se um monte de gente na mesma situação conseguiu sair do buraco, por que aceitar as dificuldades como empecilhos?
Quanto aos erros, não perdoo também, não. Sim, a educação está ruim, cada vez pior na verdade, mas se essa criatura LESSE, saberia escrever melhor. Esses erros que vemos hoje na Internet são de preguiça. Sempre que rodo a baiana e dou esporro em quem me escreve que nem analfabeto, recebo surpresa e-mails das mesmas pessoas com um Português perfeito!!! Se sabiam escrever direito antes, porque não escreveram?
Sou professora e dei muita aula para crianças e adolescentes. E eu era durona. Durona MESMO. Grossa, se preferirem. Achei que ia ser demitida. Ao invés disso, os pais me agradeceram por mudar o comportamento dos filhos e os filhos, quem diria, faziam qualquer coisa para irem a minha aula.
Já pararam pra pensar que toda essa indulgência, toda essa tolerância, toda essa permissividade, está fazendo um enorme mal às pessoas? Já pararam pra pensar que, exigir um pouco mais, cobrar um pouco mais, também revela confiança de que a pessoa realmente pode mais?
Fica aqui minha promessa de tentar ser mais gentil, mas não contem comigo para passar a mão na cabeça dos coitados porque, sinceramente, eu acho que eles merecem mais do que estão recebendo e merecem se realizar. Prefiro dar um empurrão pra eles andarem pra frente do que acomodá-los no buraco da auto-comiseração.
Beijos!
Eddie"

8 comentários:

Karen disse...

O dito "anônimo" talvez tivesse dinheiro para comprar o livro se parasse de ir em "lan house" e postar comentários inúteis.

Math)o( disse...

Olha, eu não sei quanto custa esse livro, e talvez o anônimo (a) não tenha feito isso por mal. Mas isso não interessa! Oque me espantou mesmo, é o fato dela ser professora de português, e achar o máximo ser considerada "DURONA"! isso é terrorismo psicológico contra os alunos( e os pais como sempre, não estão nem aí). E até onde eu sei(como estudante de letras que sou), existe uma discíplina no curso chamada didática que te ensina como não cometer esse tipo de erro muito comum na idade da pedra. Evolui mulher!

Nanael Soubaim disse...

Hirê, amiga Eddie.

As pessoas já não aceitam mastigar a fruta, querem a papinha pronta para engolir. Subir no pé, então, é heresia!

O Ministério da Exclusão Catedrática está transformando as crianças em cobaias de suas aberrações pedabobógicas. Gente com delírios psicodélicos em salas com ar condicionado, pega grupos fechados, acha que o que vale para eles vale também para uma população inteira. Afinal o aluno deve ser poupado de toda e qualquer contrariedade, a qualquer custo. Mesmo que seja sua maturidade emocional.

Eu já precisei ir a pé ao colégio, por estudar à noite, porque não podia pagar duas passagens diárias. Durante os intervalos eu estava na biblioteca, onde fazia as vezes de professor para os colegas. Eu não podia comprar os livros nem deixando de comer, então pegava os do colégio.

Com freqüência e trema sou taxado de pelego e burguês (quem dera fosse) por já ter alertado dezenas de vezes, no blog, sobre a idiotificação que a população tem sofrido com as facilitações desnecessárias que as escolas públicas adoptaram. Não estou chamando o anônimo reclamão de idiota, apenas dando um gancho. Nestes alertas eu dou as mãos à palmatória, reconheço que as escolas católicas e militares, que não admitem que essas idéias de erva maldita entrem em suas grades, estão formando estudantes (não simplesmnete alunos) muito mais fortes do que a pedabobice crônica permite aos demais, inclusive universitários. O resultado é o que eu já lamentei várias vezes, o Brasil já está dividido em duas castas, que só se comunicam por boa vontade da primeira: Pensantes e ruminantes.
Esta simplesmente aceita ou rejeita o que consegue interpretar, aquela discerne e encontra os meios termos.
A educação à antiga, em sua boa essência, ainda é a melhor para o nível evolutivo em que nos encontramos.

Quem é poupado do que não precisa, tem que recorrer a subterfugios socio-estratificadores, como o famigerado sistema de cotas, ao qual eu poderia, mas me recuso a recorrer para não ressuscitar meu avô de vergonha. Há exceções, claro. Quem é aprovado (com todas as falhas do Sistema) por mérito, corre o risco de ficar de fora no primeiro vestibular, por causa das cotas, mas será Profissional com "P" maiúsculo.

Falo do que vejo dentro da Vigilância Sanitária, os "profissionais" de saúde que não tiveram a base sólida que falta ao ensino fundamental, hoje, estão fazendo asneiras em fila indiana, que os licenciados à moda antiga precisam consertar antes que seqüelas graves acometam o paciente. Eles des-pre-zam o paciente.

Não é à toa que as multinacionais estão importando executivos, engenheiros e técnicos de seus países, principalmente as coreanas. Falar errado não é tolerado em adultos, de onde eles vêm. Quem fala errado, escreve errado e compromete a comunicação. Diplomados o mercado tem de sobra, profissionais que não levem a empresa à falência são poucos, então eles precisam qualificar o sujeito ou mandar vir um compatriota que chefiará todo mundo.
Depois os sindicatos reclamam!

Parecerei esnobe, mas coloco-me deliberadamente na casta dos pensantes, mesmo sem ter conseguido diploma superior, porque meu conteúdo passa de longe o da maioria absoluta dos formados.

À margem os adornos retóricos e prolixos de philosophos idolatrados, a vida real desmente o que a pedabobice moderna prega. Tive uma juventude traumática, frustração é quase o resumo desta vida, as oportunidades parecem fugir de mim, e tudo de que gosto é muito caro ou sai rapidamente de linha, mesmo assim eu consegui conteúdo. Traumas e frustrações não impedem ninguém de incrementar intelecto e espírito. As adversidades me deram têmpera em salmoura, com cianetação e monograma.

Lamento, amigos, colocar em vossos ombros a carga deste labor, somos dos que sobrarão de cabeça erguida. Preparem-se, adquiram conteúdo, a hora de ser babá se aproxima. Se pareço dramático é por ser dramática a situação.

Um abraço de mel com limão.

De teu amigo Nanael Soubaim.
Sejam pontos de luz as tuas letras.

Lix disse...

Ser "durona" tem sido a saída com meus alunos. Sou estudante do curso de Letras na FAFIRE e Pedagogia na UFRPE, conheços a disciplinas e faço o máximo para colocar tudo que tenho aprendido ao longo dos anos em prática. Mas não dá! Ensino numa escola Municipal perto de minha casa onde a realidade é totalmente diferente do que vemos nas aulas da faculdade. Ser "durona" não é faltar com respeito ao alunos, e sei, pelo pouco que conheço a Eddie como leitora, que ela JAMAIS seria desrespeitosa com as pessoas. Como o Nanael falou, "as pessoas já não aceitam mastigar a fruta, querem a papinha pronta para engolir".

Beijos para você, Eddie. Me orgulho em ser sua leitora hoje e sempre.

Mateus disse...

Olá, Eddie!
Concordo com você! Conheço muitas pessoas que adoram reclamar que não têm condições de comprar ou fazer algo, que a escola pública é ruim, que o governo não presta etc. Eu sempre estudei em escolas públicas, logo, não sou rico, mesmo assim, sempre busquei conhecimento, sempre li muito! Vejo as pessoas reclamando da educação, claro que uma boa escola ajudaria, mas VOCÊ tem que escolher aprender! Estudar em escola pública não me impediu de ganhar uma medalha na Olimpíada Brasileira de Física e nem de passar no Unicamp! Estudei Letras por dois anos e o que vi lá (mais por parte de muitos alunos do que dos professores, na maioria das vezes): o aluno era um pobre coitado traumatizado por anos de gramática! Coitado! Acho que sou um monstro insensível por não ter ficado traumatizado também! As aulas na Pedagogia, então... prefiro nem comentar! Ah, faça-me o favor, né? A única obrigação da maioria das pessoas de quem ouço estas reclamações é estudar, e nem isso fazem! Quem quer, consegue! Às vezes é preciso pulso firme pra "domesticar" aquela cambada que só quer saber de bagunçar, de msn, de namorar e nada de estudar! A culpa é dos pais! A educação vem de casa! A função da escola é alfabetizar!

Simone.Sunflower disse...

Olá, queridos!

Sou formada em Letras. Adoro minha profissão. Este é um curso pelo qual sempre fui apaixonada. Well,

Saber avaliar é um desafio (um dos)e um aprendizado constante para nós profes, pois cada aluno é diferente, logo aprendem de formas diferentes. De qualquer forma voltamos àquela máxima: Aprendemos pelo amor ou pela dor. Geralmente pela dor. É necessário um sacrifício para chegarmos aos nossos objetivos, caso eles sejam verdadeiros.

Hoje em dia me dói ver o quanto é difícil para as pessoas perceber o óbvio e o quanto morrem de preguiça por conta de uma educação falha conforme nosso amigo Nanael coloca sabiamente. Parece que pensar dói.

E não se iludam, queridos. Não é o título que faz o profissional. É no dia a dia, na prática que se vê quem é quem. Tenho um grande amigo que não raro me falava, eu ainda nem estava na facul: "Faculdade não encurta orelha de burro, só põe um Dr no peito." Infelizmente é assim mesmo.

Exigir nunca matou ninguém. Gosto de fazer meus alunos usarem a cabeça, gosto que coloquem em prática o que foi aprendido através de debates, e etc, de pedir suas opiniões, de apresentar situações e que eles as questionem. E se necessário suas lições são devolvidas sem correção justamente para serem feitas de maneira adequada, conforme eu expliquei.

E permitam-me dizer que umas das minhas profes favoritas na facul, a qual sou fã nº 1 até hoje foi a que mais me exigiu, a que mais foi DURONA. Guardo todos os seus ensinamentos no meu coração.

E só.

Simone

Mari disse...

Poxa Nanael...Clap Clap Clap!!!...apreciei e muito suas palavras. Quero ser como você quando crescer! Mas enfim, concordo com você e com a Eddie, ser "durona" faz parte do processo de tentar botar algum juízo ou conhecimento na cabeça dos indivíduos, falo isso não como professora, mas como mãe, que também é uma tarefa pra lá de árdua. E quanto ao lado financeiro da coisa, de reclamar dos preços de livros acho quase um desaforo, sempre "dei meus pulos" pra conseguir comprar livros, velas, incenso e outros trecos, guardava o dinheiro do lanche no colégio pra comprar as primeiras edições da série Wicca, ia à bibliotecas, e ao final era quase um desafio conseguir (ainda a bibliotecária era evangélica, que azar), mas um desafio que tenho um certo orgulho até hoje. Bem dizem que se aprende com amor ou com dor...mas pelo menos se aprende!!!

Eddie disse...

Math, duvido muito que você seja um professor de verdade e, se for, que a Divindade nos socorra. De qualquer forma, a maioria aqui já disse tudo e de maneira que eu não tenho quase nada a acrescentar. Math, você precisa ter mais conhecimento do que fala. Não sou professora de Português (o que eu disse é que tive excelentes professoras de Português, a maioria DURONAS). Tente melhorar sua interpretação de texto. E tente ser um professor melhor. O futuro agradece.
Tentarei evoluir, mas não se espante se não for na direção que você espera. Prefiro evoluir para algo melhor...